13 de out. de 2008

Sob o Olhar dos Outros

Espelho
Artista : Catherine Abramov Rossiya


Recebi este texto do Programa Vida Inteligente e compartilho ...


" Como seria olhar para nós mesmos com os olhos dos outros? O que eles vêem que não queremos ver? O que evitamos admitir? Quando a crítica alheia nos agride, temos a oportunidade de reconhecer nossos pontos sensíveis. Tão sensíveis e frágeis que evitamos a todo custo tocá-los. Esses pontos são lugares escuros dentro de nós, nos quais receamos entrar e nos perder: emoções semelhantes a labirintos que nos confundem cada vez mais, sempre que penetramos neles. Por isso, costumamos simplesmente dizer: "Ele não podia ter dito isso... não suporto ser vista assim". Nesses momentos, o olhar daquele que nos agride chega até nós como um peso capaz de nos afundar. Ou seja, não suportamos a crítica alheia porque ela nos afunda na medida em que perdemos a capacidade de nos auto-sustentar.

Quando uma crítica nos deixa indignados, temos a oportunidade de saber um pouco mais sobre nós mesmos. Neste sentido, a desagradável e irritante crítica alheia pode se tornar uma brecha para encararmos de frente aspectos que antes negligenciávamos.Por isso, quando o golpe nos fere é hora de parar de lutar: deixar o outro partir como vencedor, para cuidar urgentemente de nós mesmos.Abandonar a luta significa decidir abandonar certas emoções e priorizar outras. É como largar a raiva em prol da clareza interior. Enquanto ficamos presos pelos ganchos da indignação, estamos atados ao olhar alheio como fonte de orientação. É preciso largar o outro, para recuperar a si mesmo.

Quando nos liberamos da carga extra, tocamos o que é essencial. Quando paramos de nos esforçar excessivamente, tocamos a energia básica que nos sustenta naturalmente. Emoções desconcertantes são como águas turbulentas: se as engolirmos, poderemos morrer afogados. O segredo é boiar para não afundar: entregar o corpo e a mente às águas turvas da emoção.

Quando boiamos, reconhecemos que nossa fragilidade não é mais uma ameaça, mas um passo inicial para entrarmos em nós mesmos. Afinal, só podemos superar nossos bloqueios se pudermos aprender a reconhecê-los como limitações possíveis de serem transformadas.O mero ato de perceber com mais clareza a nossa real condição já dá início a uma possível transformação.

Chögyam Trungpa nos alerta, em seu livro "Muito além do divã ocidental" (Ed. Cultrix):"O problema surge quando tornamo-nos ambiciosos demais ao lidar com nossas emoções - especialmente se estamos envolvidos na prática espiritual. Dizem-nos que devemos ser pessoas boas, gentis, afáveis. São idéias convencionais de espiritualidade. Quando começamos a perceber qualidades desagradáveis em nós mesmos, encaramo-las como antiespirituais e tentamos expulsá-las. É o maior erro possível quando trabalhamos com nossos padrões psicológicos básicos. Sempre que tentarmos expulsar os problemas maiores e buscar uma cura radical para eles, somos rechaçados e derrotados.

A idéia não é nos induzir a criar uma espiritualidade utópica, mas tentar observar os detalhes das emoções mais intensas, as qualidades dramáticas das emoções. Não é preciso esperar por situações que consideremos importantes e significativas para nós, devemos aproveitar até mesmo as menores situações em que as emoções ocorrem. Devemos trabalhar com as irritações menores ou menos importantes e suas qualidades emocionais específicas. Não se trata de suprimir ou desprezar as irritações, mas de passar a fazer parte delas, perceber suas qualidades abstratas. Com isso, as irritações não terão ninguém para irritar. Podem desaparecer ou transformar-se em energia criativa.

Quando somos capazes de trabalhar, tijolo por tijolo, essas emoções menores e aparentemente insignificantes, em algum momento constatamos que, removendo os tijolos um a um, acabamos removendo o muro todo".



***


PROGRAMA VIDA INTELIGENTE

Quinta-Feira, 8 às 9 da noite, AO VIVO .

Europa - Da meia-noite a uma da manhã .

TV Floripa Canal 4 da NET


***

12 de out. de 2008

A Criança Que Existe Dentro de Mim

Painting
Titulo : Verão com Humor
Artista: Slava Grochev


Sempre aparentei bem menos que a idade real. Quando tinha 18 anos as pessoas me davam 13 ou 14 anos, aos 25 achavam que eu tinha 17 ou 18 , e assim por diante . Na verdade esse jeito de menina ainda tenho até hoje e parece que está escrito no meu mapa astral. Mercúrio e sol em gêmeos transmitem muita jovialidade .

Aos 19 anos alguém me chamou atenção em tom de crítica - um namorado, se não me engano - sobre minha infantilidade . Eu fiquei chateada com a crítica, que achei injusta (isso já demonstrava que ele tinha razão ) e fiz um arremedo de poema que dizia :

Sempre serei uma criança
Mesmo que o tempo
Deixe suas marcas
No meu corpo
Na minha pele
Nos meus cabelos
E assim
Nunca morrerei de velhice
Como se morre hoje em dia .

Ontem minha filha de 14 anos me perguntou sobre o presente do dia das crianças. Eu respondi que também queria um presente, pois ainda tenho uma criança dentro de mim. O fato é que essa criança que existe em mim é quem me segura quando o adulto balança . Como disse o poeta " há um/a menino/a, há um/a moleque/ca, morando sempre no meu coração, toda vez que o adulto balança ele/a vem prá me dar a mão " .

Que a criança existente no coração de todos nós nunca morra , pois o reino dos céus está ali , onde mora essa criança . Somente podemos compreender e amar incondicionalmente uma criança quando nos vemos nos olhos dela.

Um ótimo dia da criança para todos : crianças , jovens/crianças, adultos/crianças e idosos/crianças .

***